quarta-feira, 25 de agosto de 2010

o mundo a nossos pés

Tenho a sensação de conhecer todas as pessoas da minha cidade, mas no fim concluo sempre não saber quem são.
Todos os dias remo por entre multidões e olho. Olho, mas não vejo! diáriamente cruza-se comigo essa gente que me olha sem me ver. Fenómeno que brotou com as sociedades modernas : estarmos mais longe vivendo mais perto !

o Homem contemporâneo gostava de ter a capacidade de desdobramento, ser duas pessoas numa só, de forma a poder representar, em simultâneo, o papel de objecto amado e ser que ama.

nenhum Homem é uma ilha !

Nunca nos preocupamos, de VERDADE, com os outros, com os seus problemas, com os seus gostos. Mais importante é desenrascar uma forma de comprarmos o carro da moda, para que todos me invejem. Quais os ténis é que vou usar esta noite de modo a impressionar aqueles que me atraem, mas no entanto, não conheço. Não sei quem são, não sei o seu prato favorito nem as cores que admiram. Contudo, é a esses que queremos agradar. A essas mesmas pessoas que olham para nós sem nos ver. Bens materias são o objectivo para, assim que os possuímos, deixarem de ter qualquer valor precisamente porque passam a ser nossos.


Não sei sentir-me onde estou e tristemente vou observando tudo e todos à minha volta perdendo-se. EU, estou aqui, sabem onde me encontrar !

Todo o mundo a nossos pés! é a exigência que todos gritamos. Porque as nossas dúvidas e dificuldades são sempre as únicas que merecem uma reflexão. Quando as resolvemos, damo-nos conta que os outros também têm os seus problemas. Mas aí, já é tarde. Estamos cansados, saturados e exigimos o "merecido" descanso, que jamais pode ser interrompido só porque alguém pensa que a nossa ajuda ou simples opinião é importante. Não queremos saber: em segundos esquecemos as dúvidas, desesperos que nos debitam ao telefone e fechamos os olhos. esboçamos um timido sorriso porque, de uma maneira ou de outra, acabaremos por adormeçer esta noite.

Os outros ?
Não passam de objectos gastos que são usados consoante a nossa disponibilidade.

" Oh cidade, ilusão ! que te vestes de cimento e alcatrão,
não me encontro, nem a ti, nos muros que fazem de ti prisão! "