A voz

-Vai lá, força!
Esses tomates, deixaste-os na horta?
-oh mas...
-Até parece... só tens que ter coragem, és medricas?
-Não, claro que não.
-Então estás à espera do quê? Vai!
-Sei que amanhã me arrependo.
-Arrependes nada, a vida é para viver, nunca mais vais ter esta idade.
-Sim mas.., não é correcto.
-Olha lá, mas o que é correcto? Se não fizeres, arrependeste de não o ter feito.
-Sim, também é verdade.
-(André, estás a falar com quem?)

São Martírio

São Martírio

Venha vinho e castanhas,
descascadas.
Assadas ou cozidas.
Ele tinto ou branco
mais que isso, é demais.

Haja vinho, nada mais,
bem carrasco.
De pouca uva, dos restos dela
mal pisada ou agua-pé.

A castanha é um luxo,
se vem quente já é cara,
se vem crua,
mal amanhada.
Come-la à condição.

Não peço mais,
não me é permitido.
Já não há santo,
nem São Martinho.

Mas de vinho vou saciar,
não custa muito
não enche o tacho, mas
foge a cabeça do pensar.