quarta-feira, 30 de março de 2011

Realidades ocultas

Os dias de hoje não se vivem... correm-se! Corre-se à frente de tudo... do tempo, dos valores, das pessoas...
Olhamos para o relógio e vemos que estamos sempre atrasados, houve sempre qualquer coisa que se deixou de fazer, houve sempre alguém a quem nos esquecemos de vangloriar. Passamos uns pelos outros sem repararmos nos seus traços, no seu olhar, na maneira como os sentidos lhes devolvem aquilo que a vida lhes dá! É bem mais fácil julgar primeiro e só depois tentar conhecer as causas para as respectivos efeitos aparentes, dá demasiado trabalho!

O- olá, como estás?, tem sempre as mesmas duas respostas : mal e mais ou menos. Nunca respondemos: lindamente! Há sempre um mas...
E houve e há sempre alguém de quem nos esquecemos. Alguém que sofre de modo atroz e desumano.
São definidos juntamente com os seus sacos-pilhas de recordações, com o seu cheiro - por vezes nauseabundo - e com o sitio de onde fazem o seu cantinho. Pode ser a escada da igreja da memória, a porta do metro do rossio ou o banco do jardim da Avenida da Liberdade. Nunca os individualizamos, nunca nos preocupamos em saber o seu nome, a sua idade, a sua cor preferida... Nunca queremos fazer-lhes perguntas e muito menos ouvir as suas respostas. Perdem, por isso, a autonomização, a individualidade e tornam-se só mais uma estatistica.
No outro dia, no jornal lia-se que, cada vez mais pessoas em Portugal morrem de frio...
E quando se morre com a frieza, poderá dizer-se mesmo que provém da cegueira dos outros? Porque não se faz também disso uma noticia? Porque é que não há tablóides em que se lê as consequências da cegueira que vem da alma!?
Quando estamos com pressa para chegar ao trabalho ou à escola, houve sempre qualquer coisa que se deixou de fazer - repararmos neles. Só reconhecemos as lojas, os semáforos, os telemóveis...
Optem então por sair da vossa bolha particular e vazia e percebam que todos os dias há alguém pelo qual passamos que tem um nome, uma idade, uma familia, uma tristeza, uma alegria, ou até mesmo um livro preferido. Decida-se, por isso perguntar-lhes e responder-lhes. Opte-se então, por não apanhar este metro e ir apenas só no segundo. Porque entre uma coisa e outra podemos aprender uns com os outros, sejam elas pessoas com ou sem-abrigo.
A estes não lhes falta apenas um abrigo físico, mas todo um abrigo relacional. E se individualmente não lhes podemos dar o primeiro, o segundo conseguimos sempre... basta passar pelas pessoas e as ver. Basta dar-lhes voz, basta querer ter tempo! Basta não ter medo de quebrar a rotina preguiçosa.
Demais, como sempre digo, o pior pecado é o da omissão.

1 comentário:

  1. Nem sei quantas vezes por semana penso para comigo que quando acho que já vi tudo, que ja passei por tudo. Mas supreendo me. Na verdada, basta andarmos atentos ao que nos rodeia, como tu falas no teu desabafo..., para depressa nos sentimos tomados pelos outros, com alguma situações, que nos fazem sentir bem ou, plo contrario, nos revolta tens a prova no teu texto..., seja uma senhora a mandar um saco plastico para o chao, sem se importar que aquilo demore decadas a desaparecer, seja um jvem levantar-se no autocarro para dar lugar a um velhote, seja um atrapanhado que esta atrasado nem sabe para ond, seja um casal de velhotes, que passeia de maos dadas mostrando a todos a sua enterna cumplicidade, assumindo assim que sao companheiros de uma vida. espero e tambem espero que tu nunca percas sta fapacidade de poderes supreender todos que passam por ca com as tuas palavaras. tudo tem um sentido e uma resposta por ser assim com é :P

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